Pernas e almas entrelaçadas

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Nossas pernas estavam entrelaçadas, e seus dedos longos percorriam a pele quente do meu ombro direito quando me veio a certeza — aquela, que parece planejada pelas estrelas acima de nós. Aquela, que parece vir sempre num dado momento; que vem à tona quando você menos espera e quando está, pela primeira vez, imune aos pensamentos essencialmente racionais que te levam a pensar duas vezes quando o assunto é se jogar de cabeça numa paixão louca e intensa: e então, a cada vez que os seus pés roçavam nos meus, se tornava mais e mais absoluta essa certeza regada por esse seu sorriso escancarado, pelo verde-que-engoliu-o-céu desses teus olhos grandes que me fitam sem cessar, pelo suor suave da tua pele misturado ao da minha. A certeza, não tão nova, porém de proporções recém-descobertas, e que agora invadia e acelerava o ritmo das inspirações e das expirações, e um só nome para defini-la, um nome que eu, e só eu sabia: eu estava no lugar certo. 
Instigava-me que, dentre toda a infinitude do universo do outro lado da janela, nenhuma se igualava a do mundo em que adentrava quando você me envolvia firme em seus braços, aqui, do(s) lado(s) de dentro. 
Como naquele instante.
Estávamos deitados, enroscados um no outro, como que num nó de nós. Foi quando emiti um riso baixo ao perceber que qualquer cama, canto, banco ou beco tem espaço suficiente para nós dois. Qual é a graça vista nas camas de casais? Ocupamos o lugar que quisermos no espaço, e naquele comecinho de noite optamos por ficar bem ali, ocupando o lugar de um só. Porque é o que nós somos, afinal.
De seus lábios, partiu uma voz suave, rouca, que me pedia, ardente.
"Vem... Dorme comigo essa noite?"
E o calor, transpassado aos rodopios de sua boca para o meu corpo, enquanto seus pés prosseguiam a roçar nos meus, e suas mãos macias iam de encontro direto a minha pele, nua, crua, tão mais que sua; seus olhos ainda se apoiavam no meu olhar, fullgás, feito nós, que irradiávamos sem nuances o calor que vem de dentro, de dentro do dentro, além de onde dançavam nossas almas. 
Porque naquele momento eu mais do que nunca soube que o amor fala nesses pequenos gestos, e que o que vem depois do universo já é sabido. Você.