E deixa... E deixa.

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Você me abraça apertado e sua voz, como uma mímica de sons, percorre meus ouvidos e ecoa por entre os tímpanos, choca-se com o cérebro, nada pelas águas do fluído e adentra na corrente sanguínea, e a pele se arrepia, os pelos se eriçam e os olhos, os olhos, abertos, fechados, marejados. Sua respiração bate quente na pele do pescoço, posta a prumo, e meus braços percorrem ainda mais quentes as suas costas, ferventes. 
Deixa.
Suas mãos me puxam pra mais perto, e então te sinto perto, tão perto, que dentro, dentro de tudo. Olhos fechados, bocas entreabertas que agora se tocam e percorrem e esquentam: e molham. Aproximam. Dentes que escancaram sorrisos e mordem lábios, os seus, os meus, os nossos. Porque o meu sorriso é seu e o seu sorriso é meu, também. Deixa a barulheira dessa vida comprida pra fora desse nosso mundo, tranca lá fora o cinza, tranca o inverno, tranca as incertezas, porque, enquanto essa porta estiver trancada, quem controla a alavanca são nossos anseios. Aqui e agora, você e eu, eu, você e nossos corpos que se sentenciam enquanto nossas almas dançam leves flutuando aos rodopios. 
Deixa a cortina escancarada, deixa refletir nos arranha-céus o céu do escarcéu que permanece aqui dentro.  
Tranca a porta e vem. Deixa?