Mais romântico que a lua cheia

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Ele piscou para ela, e ela, então, sorriu. Ele estava a frente dela, com os ombros largos encobertos por uma camisa vermelha de flanela xadrez. Apesar do vento, tirou suas mãos do bolso e a envolveu em seus braços, de modo que a cabeça dela repousasse sobre seu peito. Mal sabia ele, mas as carícias que fazia naquela nuca macia ocasionavam fortes descargas elétricas por todo o seu corpo. 
Suas bocas se encontraram, e ela não conseguia pensar em outra coisa que não a ânsia em poder dizer que o amava. Ah! como o amava... Observou atenta aqueles olhos verdes, ainda mais estonteantes quando a fitavam, e aquela barba, ah!  clara, macia, que roçava levemente em seu rosto quando ele a beijava...
... e, então, sem hesitar, ela correu. E ele, com suas mãos entrelaçadas às dela, nada pôde fazer além de segui-la. Se jogaram sobre a grama macia e passaram a tarde entre beijos, pernas e braços entrelaçados, mãos em cabelos, barbas, cinturas e ombros. Olhos nos olhos. E o sol, ameno pra luz que surdia do emaranhado daquelas almas, cheia de nós impossivelmente desvencilháveis naquela trilha sonora regida por Pink Floyd, com citações que iam de Rita Lee a Guilherme Arantes.
"Nada melhor do que não fazer nada, só pra deitar e rolar com você..."
Foi só quando a lua deu as caras que eles decidiram se levantar. Acenderam as luzes da cidade e o fogo das paixões, se abraçaram e ficaram juntos até nascer o sol.
Sentados na calçada, durante a madrugada, conversavam sobre os quatro cantos do mundo interior entre beijos e carícias enquanto ela observava atenta todas as cores daqueles olhos capitosos com a fraca iluminação dos postes da rua.
"Você só pode ser fruto da minha esquizofrenia... Não acredito ainda que possa estar aqui, comigo... Acordo e durmo pensando em você. E é tão gostoso ter os pés no chão e ver que o melhor da vida está só começando..."
"Onde enfio toda essa vontade insana de nós dois? Não posso simplesmente colocá-la no bolso... É algo sem medida. Sem nome. Sem cabimento, sem juízo e sem hora pra voltar." 
"Como nós dois, sem rumo, livres para ir e vir. E sempre voltar..."
Emergiram instantaneamente dois sorrisos que percorriam o universo de uma ponta a outra, seguidos por dois pares de olhos que seguiam fechadinhos, e bochechas que doíam, trêmulas, de tanto sorrir. 
"Aaahhh... Foi tão bom te conhecer, e tão fácil te querer..."
E, então,  um abraço quente. Longo. Apertado e, talvez, suficientemente esclarecedor. Foi necessário um só sussurro na orelha esquerda, e em um só instante toda a luz das estrelas pairava sobre os dois:
"Hoje... Hoje eu sou mais romântico que a lua cheia..."