Música para cortar os pulsos

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"O pulso ainda pulsa
E o corpo ainda é pouco
Ainda pulsa
Ainda é pouco"...
Um teatro. Três atores, uma platéia. Um blog, três sorrisos. Um roteiro, um desejo, um orgulho.
Uma dor, que origina três. Centenas de lágrimas.
Diversas tentativas, infinitas decepções... Um gesto, tantos sentimentos!...
... e uma só música.

— Boa noite! Ingressos checados. Vocês já podem entrar, portanto. Basta passar por essa porta e subir as escadas.
Tec. Tec. Tec. Tec.
— Eu estou ansiosa. Sabe, é como se eu já soubesse que me identificarei com essa peça. Você também está?
— E como! Acredite: tanto quanto quanto você.
— Isso deve ser um bom sinal, não? Bem... chegamos! Pegue os ingressos. Fileira E... cadeiras...
Olá, — disse um rapaz, com uma expressão indefinida e um longínquo olhar — espero que tenham um bom espetáculo — prosseguiu, antes de distanciar-se, entregando-nos uma tira de papel, levemente esverdeado, contendo, de um lado, o endereço virtual de divulgação e interação da peça; e, do outro lado, algo a mais...
— São trechos de... música — dissemos juntos, e então sorrimos — o que diz o seu?
— "Taí, eu fiz tudo pra você gostar de mim. Ah, meu bem não faz assim comigo, não. Você tem que me dar seu coração." Carmen Miranda! E o seu?
— "Você é o que resiste ao desespero e à solidão. Nada existe e o mundo é triste sem você"...
— ... "Meu amor, meu amor... nunca te ausentes de mim..." — ouvi-o cantarolar; seu rosto já envolvido pela escuridão. Teus olhos brilhavam com a fraca iluminação do teatro, bem como teu sorriso — é possível, afinal, não notá-lo, mesmo envolto a penumbra?
— Chico Buarque! — apostamos, sorrindo.
— Ótima escolha...
Bzzzzzzzzzzzzzzzz.
A música ao fundo foi pausada. A iluminação, amenizada, pouco a pouco, até encontrarmo-nos em uma completa obscuridade. A nossa frente, três jovens: Felipe, Isabela e Ricardo — ou, por que não?, Kauê, Mayara e Victor.
Onde começam as histórias de amor? E, afinal, quantos amantes as canções sacrificam para serem contadas?
Sorrisos, emoções, pensamentos e pequeninas lágrimas que teimam a cair — diretamente extraídos do palco para o coração da platéia, agora um só, que fortemente pulsa. Talvez emocionado, talvez identificando-se — mas juntamente a alma de cada um ali presente.
Afinal... em que parte da música elas terminam?

"Música para cortar os pulsos" apresenta três atuações impecáveis, com roteiro e direção soberbos. Em curta temporada no Auditório do Sesc Pinheiros, suas apresentações ocorrem sempre às quintas, sextas e sábados, às 19h, e aos domingos, às 18h.
Este é o tipo de espetáculo que funciona como uma corda, que laça o seu coração e embranquece sua aura.