Sorrisos dissolvidos

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"A humanidade é desumana
Mas ainda temos chance,
O sol nasce pra todos,
Só não sabe quem não quer,

Quando o sol bater
Na janela do teu quarto,
Lembra e vê
Que o caminho é um só,

Até bem pouco tempo atrás,
Poderíamos mudar o mundo,
Quem roubou nossa coragem?
Tudo é dor,
E toda dor vem do desejo,
De não sentimos dor"
(Legião Urbana - Quando o Sol Bater Na Janela do Teu Quarto)

Percebia energias diferentes rodearem meus pensamentos ao sentir as pequenas gotas da chuva tocarem minha pele, esfriando-a ainda mais.
Trovejava.
Esfriava.
O medo e o calor há tempos estavam submergidos de meu corpo, que vigorosamente pedia que se aproximasse. Entusiasticamente sonhava com o perdão.
Um beija-flor pousou em meu ombro.
Observei-o sem cessar.
A chuva aumentou, e ele partira a procura de um refúgio.
Surgiu então, no mesmo lugar, uma alma, branca, branca!, pedindo educadamente que eu segure em suas mãos.
"Tenho algo a lhe mostrar. Perceba como sou: irradio uma indecifrável e inigualável luz, como o sol, iluminando a todos os presentes em sua órbita. A luminosidade atinge, até mesmo, os mais distantes que reconhecem a grandeza e poder que posso exercer sobre cada um. Você é uma forasteira e única exceção. Venha. Deixe-me mudar isso. E de uma vez por todas."
Hesitei, mas logo entrelaçamos nossos dedos e voamos. Voamos sem nos preocupar com possíveis obstáculos que surgiam em meio ao, agora, nosso rumo. Por mais que eu não fizesse idéia de quem estava ali, logo ao meu lado, sentia uma incrível sensação de segurança ao estar com... aquilo.
Conforme a tempestade aumentava, mais meus cabelos em meu rosto me impediam que minha visibilidade privilegiada entrasse em vigor.
Subitamente olhei para baixo, e notei que viajava sobre o futuro. Ali estavam nossas vidas.
Porém, unidas.
Nossos sorrisos, presentes no passado, surgiam em minha mente como flashs. Ao passar a ter noção do nível de nossa mais atual situação, foram impetuosamente dissolvidos pela aguaceira, tornando-se meras poças no chão.
Ao olhar para o lado, notei que voava sozinha.
Pousei, então, no mesmo local de início, decidida a aguardar o crepúsculo e observar as estrelas emergirem no céu, deitada ao chão imerso de folhas secas.
Daquela vez nada vi além de duas estrelas, lado a lado, brilhando no escuro céu daquela noite. Observei-as tão veementemente quão olhava o beija-flor naquela mesma tarde...
Ao fitá-las recebendo em troca seu doce brilho, senti seus olhos fitarem-me como da primeira vez em que nos vimos.
Foi quando deparei-me, de frente, com o seu eu em mim.
E adormeci. Adormeci a espera de um perdão, onde posso afirmar que encontrarei-o em meus sonhos.
Juntamente ao verdadeiro brilho de seus olhos ao sorrir.