Os anéis de Júpiter

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Não havia mais jeito. Se o destino quisera realmente que aquilo acontecesse, é porque ela tinha mesmo é de aceitar sua nova vida. Não sentir medo de deparar-se com as dificuldades que, como por consequência, causaria para si mesma.
Teria é de aprender a conviver com o cinza e o imutável.

Era só o que ela conseguia pensar enquanto caminhava por aquela estrada esquisita e obscura. Segurava rijamente um guarda-chuva com estampas floridas na mão direita, enquanto na esquerda — o lado em que mantinham-se seus sentimentos mais inveterados — encontrava-se uma rosa, fora da proteção do guarda-chuva que, por sinal, mais estava prestes a voar com a forte ventania que atingia seu rosto e seus cabelos. Castanhos e enrolados, cheios...
... Opacos.
Encolerizava-se facilmente. Por que as folhas secas daquelas altas árvores ao seu redor agora estavam todas caídas ao chão, algumas, aliás, voando e atrapalhando sua visão. Impossibilitando-a de enxergar o caminho a sua frente. Se é que ao menos havia algum.
Não tinha mais rumos por onde seguir. Nem companhia para prosseguir pelo mesmo havia mais.
Ela já tentara de tudo para inverter essa situação. Habitualmente sujeitava-se a loucuras absurdas. Sua cama vivia infestada de sedativos, dos fracos aos tarja preta
conseguidos ilegalmente através de suas façanhas. Usava-os para adormecer e poder encontrar, em seus sonhos, o que até a meses atrás era sua única realidade.
O que a impedia de dormir tranquila, de concentrar-se nos estudos e a fazia ter um humor e opinião estáveis... Ela sabia bem o que é.
Mas hoje, que tudo não passa de caminhos percorridos
ou apenas deveria —,
quando a perguntam sobre "a cor da sua aura", prefere fazer de conta que nada se passou. Que nada a alterou por todo o seu sempre.

Prosseguia sua caminhada naquela tarde do dia três de um mês qualquer, enquanto as folhas continuavam a cair brevemente em seus arredores, feito os anéis de Júpiter.
Ao notar a rosa, encontrou-a despedaçada. Olhou para trás e contemplou suas pétalas seguindo uma perfeita e reta linha até onde encontrava-se.
Não pensou duas vezes: Virou de costas e seguiu novamente pelo caminho já percorrido, colhendo as pétalas vermelhas caídas sobre o asfalto desigual, unindo o vermelho da flor ao de seu sangue fluindo veloz por suas veias.

Agradecimentos ao instrumental incrível "by Led Zeppelin", que me fez, enfim, passar para o papel o omitido dentro de minha alma há tempos.