Azul

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É só você dobrar a esquina de casa que a saudade já vem fugaz na primeira batida que o meu coração dá longe de você.
Eu queria ao menos poder explicar isso. Mas eu não posso. Estou, no entanto, segura, uma vez que convicta de que é algo que nós dois, e apenas nós dois, somos capazes de entender: nós, que compartilhamos de todo o amor de mil vidas inteiras em um só sorriso.
A definição de amor rima com uma porção de coisas mais, mas inegavelmente rima com saudade. E essa, por sua vez, com dor. E, ah! como rima...
Você não acha curioso como sempre queremos estar por perto um do outro? É algo incessante, do instante em que eu acordo até os segundos que antecedem o sono, quando então posso tê-lo ao meu lado pelo tempo que for. E isso me faz sonhar cada dia mais, também acordada, com os tempos em que teremos todo o tempo do mundo para vivermos em uma só manhã, jogados na nossa própria cama, de pernas entrelaçadas, narizes colados e olhares fixados entre si.
Eu não consigo me habituar à sorte grande que eu tive em encontrar você. Não irei nunca deixar de achar impressionante o modo como nos cruzamos de repente naquele parque, naquela tarde tão comum e de modo tão inesperado. Nem por um segundo. Definitivamente aquele momento não ficou compactado ao presente; era certo que eu seria sempre sua. Sempre fui, e assim vai ser. E assim mesmo, como diz a canção, depois de você, os outros são os outros e só. A vontade maior dos meus dias é de te ver sorrir, e eu não quero mais nada na vida além de te fazer feliz. De longe eu sei que é isso, e apenas isso, o que eu quero que perdure por todos os meus dias, dias tão meus, que também seus. Cada vez mais nossos...
Quanta alegria têm os nossos dias! Não há quem tire do nosso rosto esses sorrisos de um milhão de dentes, sorrisos compartilhados, de causa clara, que fazem soar dois risos gostosos seguidos de olhinhos puxadinhos e dois pares de braços que se esticam e velozes se abraçam, fortes, apertados. Aos rodopios, como as nossas almas, leves, azuis, pairando pelo ar feito balões. Como nós, exalando juventude e alegria, alegria por se identificar com o tempo presente e sentir o impacto de duas peças que se encaixam: a tão nova sensação de se estar exatamente onde sempre se quis estar.
Certa vez você me disse que gosta de estar em minha companhia porque, comigo, você é livre para agir como age com qualquer outra pessoa no mundo. Isso me marcou de maneira especial, e eu nunca me esqueci. Com essas palavras poucas, você foi capaz de expressar o que eu há tempos tentava e não conseguia. É exatamente assim que as coisas funcionam entre nós dois: uma plena desnecessidade de sermos artificiais no que dizemos ou fazemos, e tampouco de agirmos contra as nossas vontades, que, muitíssimo curiosa e instigantemente, nunca divergem entre si. Assim, dessa forma gostosa como um cafuné, conquistamos pouco a pouco a certeza de que eu nasci para você e você nasceu para mim. De que você é o meu amor, mas é também o meu melhor amigo. Uma vez li num lugar essa frase: "The best relationship is when you can act like lovers and best friends at the same time". E de cantar, dançar e não se cansar de ser criança, a gente entende. A gente brinca na nossa velha infância.
O nosso encaixe, ah, o nosso encaixe é surreal. Nossos corpos apenas refletem a sede do contato da minha alma com a sua, e isso é tão livremente belo quanto uma borboleta azul a sobrevoar um jardim de camélias vermelhas, ou quanto nós dois, num abraço urgente, apertado, a nos amarmos a cada batida acelerada de nossos corações, unidos, colados, sem barreira nenhuma entre eles. Você então me segura forte e me rodopia pelo ar. Meus cabelos acompanham o ritmo do vento, e você me olha de baixo, sorrindo, com um brilho no olhar que me desperta toda a alegria pela sensação agora já de familiaridade com o presente, mas um presente que faz jus ao nome que tem. Um presente que vivo de modo surreal ao seu lado, e prezo, convicta, que perdure por toda a eternidade dos nossos dias. 

E é só desfazermos o nosso longo abraço que a saudade já vem fugaz na primeira batida que o meu coração dá longe do seu. Estou certa de que, na vida, não há sensação que se iguale a essa. Sou incapaz de nomeá-la, explicá-la ou entendê-la. A única coisa que sei sobre ela é que ela é azul. 
Azul como o céu. Azul como o mar. Azul como a liberdade. Azul como você.