Entranhas

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A dor da tua lembrança me vem feito a de uma doença crônica, como as que, por mais que se busque de modo incessante a cura através de diversos medicamentos, consultas médicas e tratamentos alternativos... persistem.
É uma dor que não cabe no peito e, tampouco, no bolso, fazendo surgir fugaz a ideia de esforço por me confortar com a ideia de ter de dividi-la por entre todos as lacunas e entranhas do meu corpo, já não bastando carregá-la por sobre a cabeça como um pesado balde cheio d'água, ou pendurada sobre os ombros na forma de uma mochila de tricô cheia de pedregulhos pontiagudos a pinicarem e arranharem a pele das costas.
Observo as flores secas no jardim, regadas no dia anterior, e as carnes dos seios que sangram através de profundas fissuras. O travesseiro sobre a cama atijola-se e dá chance aos vultos a impedirem a breve morte. 
Já não há paz.
E o amor, talvez tenha se afixado nas entranhas pedregulhais a penetrarem às costas.