Berliner Mauerfall

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O toca-discos soa no canto do quarto:
... com um balão só já dá pra voar...

Leva menos do que uma fração de segundo: de olhos fechados, sinto dissipar o teto sobre a minha cabeça, pouco a pouco. O vento é fugaz em desordenar os fios do meu cabelo, e, enquanto isso, nada mais que inspiro. Cruzo as pernas. Aguardo.
Eu estou aqui, encolhida sobre essa cama insólita de espirais, aguardando o cair da chuva.
Aqui, não há barreira alguma entre o céu e eu – e o meu pulso bate acelerado pela adrenalina que se prepara para o maior dos dilúvios. Vigio.
Com o pensamento já apregoado na mescla de chuva e lágrimas, espero. 
Na súbita escuridão escarlate das nuvens negras sobre aquelas cinco paredes, a luz dos relâmpagos. O som dos trovões.
Dos relâmpagos, a luz. Dos trovões, o som. E eu, na espreita.

Em um segundo de duração menor do que um suspirar profundo, porém suficiente para interrompê-lo, o telefone toca.
– Oi!

O teto sobre mim, recomposto. A forma assumida, a de um céu azul mais estrelado de que se tem história.
E, no fim do teu arco-riso, um pote bem cheio de moedas de chocolate.