A dez-construção do medo

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Amar dói e faz chorar profundamente na calada da noite. 
Uma lágrima pela palavra não-dita, outra pela dita. Duas pela distância, três por cada ponteiro do relógio de mil toneladas afixado ao peito, quatro pela falta, pelo tempo. Cinco pela excessiva afinidade, que gera a saudade a colorir de cinza da sexta à centésima lágrima.
Sete por cada demonstração de apoio à distância, na impossibilidade de um abraço do tipo que prensa dois corações. Oito pelos nós na garganta e nos dedos, acorrentados e aflitos a fazerem as malas e partirem sem volta na direção das tuas pegadas. Nove por cada dor identificada no outro, enganadora ao gerar o breve torpor da reciprocidade.
Amar dói e faz chorar tão profundamente na calada da noite que, ao quase ultrapassar a exaustão, chega ao ponto do, enfim, dez-canso.