à Alessandra

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Resposta à carta de Alessandra Rocha


Alessandra, Alessandra. Sempre Alessandra

Minha amiga querida! Já rascunhava essa carta, quando li a tua. Você deve imaginar: o tempo é escasso. Devo ser uma péssima amiga por estar escrevendo-te apenas vinte dias depois do envio de tuas palavras. Perdoe-me. Faço o seguinte. Reescrevo-a, respondendo-te e perguntando-te, também. Aliás, se há algo longe da escassez, é a saudade... E o clima? Como anda? Melhor, espero -- mas quero saber dos dois. O clima interno e o externo.
Em tua correspondência citara a exposição do Escher, e então lembrei-me: ah! que delícia de dia... Que delícia foi caminhar pelas ruas naquela noite escura, misteriosa e perigosa, mas não sem tomarmos um café quentinho, e caminharmos pelos círculos crescentes do Centro Cultural Banco do Brasil atentando-nos a cada pormenor. Que delícia foi ouvir teus risos e tua voz contente, ansiosa pelo intercâmbio à Dublin. E de imaginar que minhas palavras viajarão pelo vento, ultrapassarão terras, mares e barreiras, tudo para pararem aí, bem em frente aos teus olhos. E imaginar isso me faz sorrir.
Li sua carta mil vezes. Vi-a como um martelo, e então pude nos imaginar destruindo muros e mais muros, ou qualquer barreira que pudesse vir a interferir em nossa amizade inteira e imensuravelmente atemporal. Imaginei também tua carta em sua versão original, e concluí que ela não sairia do meu bolso. O envelope já estaria um farrapo, e as palavras amassadas, de tanto sentimento, de tanto aperto no peito que me dá enxergar: você está longe. Na noite do dia quatro de setembro, a noite do envio de parte de teu coração em forma de palavras perfeitamente organizadas, já estava pegando no sono, quando sonhei. Mas sonhei meio acordada, sabe?, aquelas coisas que passam por nossa mente quando nossos olhos já estão fechados, que não nos permite saber se é real ou não? Vi a concretização de um sonho descrito: as cartas publicadas. Lembra-te, minha amiga querida? Lembra-te dessa ânsia nossa? E em paz comigo, faço de conta que é tudo verdade e entro de asas abertas nesta aventura. Neste enredo completo. Pois aguardo contente e ansiosa por esse dia, assim como teu riso naquele último fim de tarde que nos vemos antes de você ter em mãos tua passagem que dizia: Dublin.
Deixo para o fim a resposta de tua primeira pergunta -- como andas? --, mesmo porque fazê-lo é de extrema complicação. Talvez eu ande melhor do que qualquer um possa imaginar. Talvez não seja bem assim -- a felicidade é maior ainda! Afinal, sinto-me a pessoa mais corajosa do mundo ao estar discordando de Jobim, mas a felicidade não tem fim. A tristeza sim!
Cuide-se por aí, minha amiga querida! Um abraço apertado, e mil e um sorrisos, assim: de orelha a orelha! Mantenha o clima interior tão quente quando o líquido escuro dentro da pequena xícara branca daquela noite. Aguardo ansiosa tuas palavras!
Te beijo no queixo (tira a mão, tá?).
Amor,
S. Paulo, 24 de setembro de 2011